Vinho bom é questão de gosto?

O que torna um vinho bom?

Gosto é gosto

Ninguém quer degustar vinho ruim. Ao contrário de uma peça de roupa, por exemplo, não podemos sentir a textura, o peso, corpo, leveza e maciez de uma vinho antes de abrir a garrafa. E, assim como a peça de roupa, por vezes podemos nos iludir com a aparência da garrafa ou assinatura do vinho.

Especialmente depois que o Novo Mundo passou a produzir vinhos e importá-los, a aparência das garrafas ficou cada vez mais chamativa. Mas nem sempre o conteúdo serve ou cai bem. Vinhos europeus costumam ter rótulos simples, por vezes feios e sem graça, mas muitos desses rótulos valem pequenas fortunas.

Portanto a primeira dica é: não considere apenas a aparência da garrafa ou seu rótulo na hora da compra. Sabemos que é difícil, mas não é impossível.

Superada a fase da aparência, vamos à segunda parte. O que é um vinho bom?

Não é possível falar de vinho bom sem mencionar o gosto: pessoal e intransferível. Cada pessoa sabe do que gosta e do que não gosta. Não é certo nem errado gostar mais ou menos de determinados estilos ou tipos de vinho. Gosto é gosto e não se discute. Portanto não falaremos de gosto dessa forma, mas sim de qualidade, que é um excelente parâmetro a ser seguido. Vinho precisa ter qualidade, independentemente do sabor que possa ter.

O que faz um vinho ter qualidade?

A questão correta

Diversos fatores influenciam na qualidade do vinho, a começar pela produção da uva. Vinho de qualidade requer uvas de qualidade. Uvas ruins podem produzir vinho “bom”, mas nunca de maneira natural. Vinho bom de uvas ruins é necessariamente manipulado ao extremo, uma espécie de Frankenstein engarrafado. Por isso é importante conhecer o produtor e informar-se sobre as suas técnicas de produção. É o mesmo cuidado de procedência que tomamos com os vegetais e carne que comemos.

Dentre os fatores que influenciam a uva, está o rendimento da videira. Uma videira bem alimentada vai produzir uma imensa quantidade de belos cachos de uva. Em se tratando das não viníferas, para consumo in natura ou suco, isso é interessante. Porém, para fazer vinho não serve. A razão disso é a diluição dos componentes que vão compor o vinho. Muita uva, pouco açúcar, muita água, pouca concentração, menos amadurecimento.

A posição do vinhedo tem também extrema importância. Vinhedos em posição privilegiada em relação ao sol, ventos, inclinação, quantidade de chuva, enfim, ao microclima ideal, produzem vinhos de qualidade superior. Ao conjunto que compõe os terrenos, clima e microclima damos o nome de terroir. Para saber mais sobre terrois: https://blog.casadovinho.com.br/o-que-e-o-terroir-saiba-como-ele-influencia-a-producao-do-vinho/#more-7078 )

Terroirs famosos como os da Borgonha ou Toscana são privilegiados. Fazer vinho de baixa qualidade na maioria desses lugares é prova incontestável de incompetência.

O clima correto influencia imensamente tanto na qualidade como no estilo do vinho. Regiões mais frias produzem vinhos mais ácidos, uma vez que pouca luz solar faz com que as uvas amadureçam menos e a acidez prevaleça.

Chuva na hora errada dilui a polpa da uva, que fica encharcada de água. Geadas podem queimar os brotos e impedir o nascimento dos cachos. Há uma infinidade de preocupações e danos possíveis às videiras, causados pelo clima. Domá-lo e proteger a videira é sempre um desafio para os produtores.

A hora da colheita também influencia imensamente a qualidade do vinho. É necessário colher as uvas quando elas estiverem no auge da maturação, que pode mudar em poucos dias. A decisão da data da colheita exige conhecimento, experiência e habilidade do enólogo. A colheita também pode ser manual ou mecânica.

Na colheita mecânica a chance de colher e vinificar cachos de uvas pouco maduras, folhas, uvas podres e outras coisas, é alta. Se não houver uma seleção rigorosa antes da prensagem, o resultado refletirá na qualidade, consequentemente, mais baixa.

A vinificação é a hora da verdade. Ali o enólogo vai mostrar seu talento com as leveduras, micro oxigenação e manipulações diversas ou seu talento anterior, na hora de plantar, cuidar e colher. Quanto menos manipulações, mais expressão do terroir esse vinho vai ter. Caso contrário ele será pouco ou muito fabricado.

Obviamente existe interferência humana mesmo em vinhos pouco manipulados na sua concepção. É necessária higiene durante o processo, cuidados diários com transfega e acompanhamento da fermentação do princípio ao fim.

Alguns poucos enólogos usam leveduras selvagens, que são aquelas que estão presentes na própria uva e no ambiente. Essas são mais difíceis de controlar e podem estragar uma produção inteira de vinho. Por isso são mais comumente usadas leveduras cultivadas em laboratório, específicas para cada caso.

Finda a fermentação, o vinho pode ser engarrafado, pode ir para as barricas fazer um estágio, pode ir para tonéis gigantes de madeira ou inox, para uma adega escura e fria, passar por micro oxigenação… enfim, ser lapidado. Por vezes uma pedra bruta é tão bela como aquela trabalhada. E a decisão de interferir no produto depende do enólogo, mas também da moda.

Por vezes terroirs inteiros foram devastados por conta da moda. Muitas vezes a produção se baseava na simples opinião de influentes críticos de vinho. Comercialmente, boas pontuações significam boas vendas e preços mais altos. Se em uma época consome-se mais Merlot que Syrah, então os vinhedos de Syrah transformam-se em Merlot. Vinhos amadeirados ao extremo foram moda por muito tempo. Portanto, a maioria passava pelo carvalho ou o carvalho passava por ela. Explicamos: chipar um vinho é colocar lascas de carvalho dentro dele e não ele dentro do carvalho. Exatamente como se faz com uma xícara de água quente e um saco de chá.

Essa interferência soa antiética para muitos e totalmente aceitável para outros. A chipagem faz com que os vinhos adquiram o sabor/aroma de madeira e ainda assim tenham preços mais acessíveis. São também mais rápidos que aqueles que estagiam por longos meses em barris. Porém aqueles que usam chips não deixam isso claro ou sequer comentam ou informam a respeito.

Outra parte importante, talvez a mais importante é o armazenamento dos vinhos prontos e já distribuídos.

O enólogo pode ter criado uma obra de arte líquida, mas se o importador, loja ou distribuidor não cuidar desse vinho como obra de arte, o trabalho todo estará perdido. Os cuidados para produzir vinhos de qualidade começam na videira e terminam no momento em que o vinho é aberto. Se em qualquer momento desse ciclo alguém falhar, todo o trabalho está perdido.

Portanto, além dos cuidados que são necessários ao pesquisar sobre o produtor e suas técnicas, é necessário saber quem trouxe o vinho até você e como isso foi feito. Importadoras sérias tomam todos esses cuidados, escolhendo muito bem seus produtores, trazendo os vinhos de forma adequada e armazenando-os de maneira correta, em adega climatizada.

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