Amarone, um dos mais fascinantes e reconhecidos vinhos italianos, não é um vinho como outro qualquer. Produzido no Veneto, norte da Itália, tem método de produção diferenciado e o resultado é surpreendente! Seja pela exuberância, pela complexidade, pela potência, pela personalidade, ou tudo junto, ele com certeza vai encantar.
Se já ouviu falar e quer saber mais, ou se já é um apreciador e quer se aprofundar, não deixe de se deliciar conosco neste maravilhoso mundo dos vinhos.
A origem…
Reza a lenda que o Amarone surgiu em 1936 em um ‘erro’ de produção do Recioto (vinho doce, considerado o melhor vinho de Valpolicella na época, que é produzido até hoje). Uma das barricas de Recioto foi esquecida e acabou não sendo engarrafada, permanecendo assim por alguns anos. Ao ser descoberta por Adelino Lecchese, mestre de adega, a primeira reação foi o medo que o vinho tivesse estragado. Mas a grande surpresa foi descobrir que o vinho estava ainda melhor, com mais corpo, estrutura e o dulçor original estava mais elegante e equilibrado. Com a fermentação lenta, os açúcares transformaram-se em álcool e o vinho já não era mais doce. Como a expectativa inicial era de um vinho doce, a reação foi achá-lo amargo – ‘amaro’ em italiano – por este ser seco. Ao prová-lo e perceber o quanto era bom, Adelino gritou: “Este vinho não é amaro, mas um Amarone!” O sufixo “one” é um aumentativo melhorador.
A produção…
Amarones eram até 2010 classificados como DOC, hoje, são Denominação de Origem Controlada e Garantida, a famosa DOCG italiana. Para tanto, os vinhos devem seguir as regras que regem desde o plantio, produção, rendimento das videiras, localização dos vinhedos até o método de produção, neste caso denominado apassimento (semi passificação das uvas).
As uvas mais utilizadas na produção são as locais: Corvina (45 a 95%), Corvinone e a Rondinella. Outras uvas são permitidas em menos proporção. Geralmente colhidas entre os últimos dias de setembro e a primeira semana de outubro. A uva tem que estar na maturação ideal e em perfeitas condições, sendo necessária uma seleção rigorosa dos cachos. Estes não devem ser grandes demais e os bagos devem estar separados um dos outros. O ideal é que se possam ver os pedúnculos. Depois de colhidas, as uvas são dispostas em esteiras e madeira, junco ou mesmo plástico, dentro do fruttai (salas bem ventiladas e que garantam as condições ideais para uma secagem perfeita). O estado das uvas deve ser sempre monitorado de perto para se evitar problemas como a formação de bolores. Todas as uvas infectadas devem ser removidas imediatamente. Obs.: hoje, algumas vinícolas usam aparelhos de ar condicionado para retirar a umidade excessiva das câmaras de secagem quando necessário. No período de 3 a 4 meses que as uvas ficam no fruttai, elas passam por grandes transformações: redução do nível de acidez, perda de água (aproximadamente 40%), concentração e açúcares e polifenóis, aumento na quantidade de glicerina e resveratrol. Após o processo de apassimento (ou secagem), as uvas vão para a prensa e o mosto resultante passa por um longo processo de fermentação (de 35 a 50 dias) a baixas temperaturas.
O método tradicional de produção, além de secar as uvas naturalmente, utiliza grandes (1.800 a 10.000 litros) toneis de carvalho neutro ou mesmo castanheira, por um período mínimo de dois anos e no caso dos vinhos riserva mínimo quatro anos. Como resultado, os vinhos produzidos por este método tem acidez mais viva e tendem a mantê-la por mais tempo. São estes os vinhos de maior guarda.
Os vinhos produzidos no método moderno utilizam barricas menores (225 a 500 litros) normalmente de carvalho francês. O processo de envelhecimento é mais rápido e os vinhos ficam prontos para consumo a partir de dois ou três anos.
A melhor parte… a degustação
No nariz, forte presença de licor de cereja, figo, canela e toques de chocolate. Dependendo da idade aparecem mais aromas de passas ou de couro. Mas, é na boca que este intrigante vinho mostra todo seu esplendor. Apesar de ter uma acidez mais alta, esta é balanceada pelo elevado teor alcoólico e pelos sabores de frutas maduras. Ao envelhecer, o figo se faz mais presente, juntamente com um toque de melaço. Você deve estar se perguntado, melaço? Amarone é um vinho doce? Bom, Amarone tem sim um pouco de açúcar residual e sua classificação pode ir do seco ao meio seco, dependendo da concentração. Mas, é aí, que a acidez desempenha seu mais importante papel, dar a este vinho magnífico o equilíbrio perfeito. Mesmo que alguns Amarones tenham uma concentração de açúcar residual, com uma boa acidez, pode se passar facilmente por vinho seco.