Intervenções no vinho: até onde são aceitáveis?

Até que ponto vão as intervenções no vinho? O vinho é o suco de uva fermentado pela ação das leveduras, correto? Sim, correto. Mas não apenas isso. 

Para que o vinho possa chegar até você vivo e saudável é preciso que haja alguma intervenção humana, química, orgânica ou biodinâmica, em maior ou menor grau.

Por isso existem os diferentes tipos de vinhos a depender dessa escala de intervenção e da forma como ela é feita. A biodinâmica é a mais radical e “natural” possível – chegando a alguns extremos sem comprovação científica de resultados, como tocar música para os vinhedos.

Essa é uma prática semelhante à terapias alternativas de saúde como a homeopatia ou reiki, embora também adote práticas saudáveis e comprovadas. Já os vinhos orgânicos necessitam de certificação e controle, mas sem práticas não comprovadas como nos biodinâmicos.

Os vinhos “tradicionais”, por outro lado, são partidários do bom uso da química a favor da vinicultura. Os produtos usados devem ser todos aprovados pelos órgãos responsáveis em cada país produtor, em suas quantidades e formas permitidas.

Sanitizar as instalações onde o vinho é feito ou as garrafas no qual ele é embalado requer produtos químicos e são eles que farão com que micro-organismos prejudiciais não afetem o vinho. As uvas recebem tratamentos químicos variados antes de virar vinho ou estariam sujeitas à todo tipo de doenças no pé, assim como qualquer fruta.

Leveduras cultivadas em laboratório são usadas em vinhos tradicionais, exatamente do mesmo modo que as pessoas usam leveduras industrializadas para fazer pão em casa.

Para que o vinho se torne menos sensível às variações de temperatura, possa ser transportado com segurança e permanecer inalterado em sua qualidade, também é permitido a adição de aditivos químicos.

O vinho tradicional continua sendo “suco de uva fermentado”. 

Os aditivos químicos estão presentes em nosso cotidiano em praticamente tudo o que comemos e são comprovadamente seguros. O problema não são os aditivos químicos, mas o abuso deles por parte de muitos produtores de alimentos, incluindo obviamente, os produtores de vinho.

Daí o constante conselho que ouvimos sobre conhecer o produtor e suas práticas.

A filosofia de cada produtor é decisória. Um produtor que cuide dos seus vinhedos de forma a deixar o vinho “criar-se” com a mínima intervenção possível é um produtor de vinhos saudáveis, ainda que se utilize dos aditivos.

Não há garantias de que apenas por ser um produtor “natural” o vinho será saudável, melhor ou de maior qualidade. A depender do produtor, ocorre exatamente o oposto!

tendência mundial são práticas com menos interferência química possível, a valorização do terroir e das características sazonais de cada safra.

Existem milhares de produtores que jamais se renderam à padronização do vinho – e o consequente abuso químico que isso gera, nunca cometeram irregularidades em relação à química e produzem vinhos de qualidade e saudáveis. Não tomemos todos por aqueles que não o fazem.

Veja nossas dicas de produtores que usam das Boas Práticas de produção clicando nas palavras em destaque:

Château Rives-Blanques pratica a agricultura sustentável com práticas saudáveis como a interação de outras plantas em meio ao vinhedo, o não uso de inseticidas e pesticidas fortes e a devolução ao solo do bagaço das uvas. O Terroir de Limoux, com ventos secos ajuda a manter as vinhas com o mínimo de interferência química. A vinícola participa do programa ambiental europeu BioDiVine que pesquisa a relação entre as viticultura e biodiversidade.

Mas du Soleilla é uma vinícola francesa da região do Languedoc-Roussilion com preocupações sobre o meio ambiente e a mínima interferência, além de manejo orgânico. Os vinhos de Peter Wildboz, proprietário da vinícola, são produzidos com rendimentos muito baixos de apenas 25 hectolitros por hectare. O produtor é um dos preferidos da crítica de vinhos Jancis Robinson.

Conhecer o produtor a fundo, independentemente do seu modo de manejo é uma das garantias que temos a oferecer de que os vinhos importados pela Casa do Vinho são saudáveis e de qualidade. Antes de fazer a parceria com a vinícola, a Famiglia Martini vai pessoalmente conhecer a região produtora, conversar com o produtor, provar os vinhos e se informar sobre todo o processo de produção. Com a Quinta das Bajancas não foi diferente. É uma vinícola pequena, com apenas 12 hectares de vinhas, as primeiras plantadas em 1994. Os proprietários esperaram 10 anos para produzir seu primeiro vinho, depois de adquirir o conhecimento técnico suficiente e a maturidade da videira. Isso demonstra um enorme respeito pelo vinho e pelo consumidor.

Do mesmo modo a Quinta do Tedo foi escolhida pela Famiglia Martini por seus vinhos de alta qualidade e também por suas práticas sustentáveis. Desde 2011 a vinícola recebeu o selo orgânico português para os seus vinhos tranquilos e do Porto embora pratique a “culture raisonable” desde o princípio. Suas vinhas rendem 27 a 30 hectolitros por hectare e são plantadas apenas castas autóctones portuguesas somando um total de 18 variedades.